Julho de 2010:
Era uma noite quente de verão em Amsterdam.
Estava com amigos que vieram me visitar.
Amsterdam no verão era animada e colorida, nada a ver com os dias chuvosos e cinzas de inverno, as pessoas pareciam deixar o mau humor de frio guardado no armário, sorrisos e interações quase afetuosas rolavam pelas ruas, turistas apinhados em todos coffe shops da cidade, andando tranquilamente nas ciclovias, tirando a paciência dos ciclistas.
A cidade tinha cheiro de mofo secando no sol e maconha.
Andávamos de um bar à outro, eu estava inquieta, à cada cinco minutos queria mudar de ar e ambiente, devorar a noite quente, o sol que se punha as onze.
Paramos em muitos bares, os amigos compravam vinho, bebi todos de todas cores.
Em um certo momento sentimos fome, entramos em uma kebaberia cheia, parecia ser a melhor do centro.
O homem por trás da chapa tinha semblante simpático, rosto redondo, bochechas marcadas e suor na testa, sotaque carregado, como eu também era estrangeiro naquele país, naquele mundo.
Afetada pelo álcool me pus emocionada, senti saudades de casa e de comida de verdade, sempre achei a comida holandesa triste e as árabes tão verdadeiras e coloridas me davam saudades de casa.
Puxei assunto com o homem da chapa, perguntei de onde ele vinha.
- Palestina.
- Ah sim, esta aqui há quantos anos?
- Oito já!
- Nossa, muito tempo, você sente saudades de casa? Eu estou aqui ha apenas oito meses e sinto muita saudades de casa.
- Eu sinto mas não tenho nada para voltar...
- Como? - fui muito ingenua, eu sei.
- Toda minha família morreu na guerra, toda, não tenho absolutamente ninguém lá...minha mulher, meus filhos. - seguiu fazendo kebabs.
Saí da loja no momento em que ele disse isso, não soube o que responder.
Coloquei as mãos no joelho e lágrimas escorreram sem interrupções.
2018: temos um presidente querendo transferir a embaixada para Jerusalém.
Dias sombrios.
trezentos e sessenta e cinco dias
ao voltar daquele ano um amigo que ficou lá me escreveu "Para não esquecer, lembre-se todos os dias, nem que seja um pouco, de algo que viveu aqui." Criei o 365 então.
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
quarta-feira, 15 de março de 2017
adeus suco de laranja inimaginável
Eu demorei uma semana, talvez um mês, para terminar minhas malas e arrumar o quarto pra garota colombiana que me substituiria na Spitfire numero 5.
Era tanta tranqueira eu havia acumulado em um ano que dava até medo, fazia o processo sempre pelas noites para as meninas não verem, porque era sempre doloroso Amber perguntando o que eu estava fazendo, ela gostava de fingir eu não iria embora. Hanna durona fazia descaso, era a forma dela de aceitar a situação sem sentir dor.
A primeira despedida foi da Iara, ela me pediu pra não chorar, me abraçou muito e muito forte, beijou meu ombro como sempre fazia, não olhou pra trás, a vi virar a esquina com seu véu marrom cobrindo a cabeça, lágrimas molhando a escrivaninha.
Tivemos um jantar de despedida, onde eu cozinhei algo brasileiro e apresentei danças brasileiras no projetor, tentei discursar não consegui, dancei essas danças e ainda posso lembrar dos olhos deles que não desviaram nem um segundo.
O ultimo dia foi estranhamente feliz porque seguíamos fingindo nada estava acontecendo, comemos juntos como sempre, dividimos a torta de maça com chantilly como de costume.
Era então hora de partir, parecia íamos pra um passeio mas não era, Hanna continuava durona e fazendo piadas "você nunca mais vai ver esse quarto pois bem"
Fechei a porta do quarto, branco sem todas minhas fotos espalhadas e o olho embotou em lagrimas, tentei nao chorar. Hanna continuava sendo durona, Amber já tinha o olhar triste.
Entramos no carro, Mark colocou as direções pro aeroporto no gps, apertamos sinto, eu entre as duas, Kelsey, grande amiga, no banco de trás, Suzanne no banco do passageiro.
Começamos a partir e eu fiquei vendo a casa desaparecer sem parar de olhar um segundo, ai viramos a rua e a casa sumiu, eu voltei meu olhos pra dentro do carro e olhei pra elas, olhei pra Hanna e vi o olhar durão havia desaparecido, ela começou a chorar, eu comecei a chorar, Amber começou a chorar, Kelsey e Suzanne, Mark fez silencio.
Choramos sem parar as exatas uma hora e meia de trajeto ate Schiphol, Hanna chorava tanto, soluçado, doído, eu apoiava meu queixo na cabeça dela e mantive a outra mão acalentando Amber, chorei tanto quase não conseguia enxergar os moinhos de vento, os campos de tulipa e o céu cinza de sempre, nenhuma palavra foi dita, a gente só chorou sem intervalos, eu acho nunca experimentei aquele sentimento de novo, era absurdamente triste ao mesmo tempo que era belo, eram 365 dias girando no estomago, pesando nos ombros, invadindo as frestas todas, era um amor tão absurdo por elas que eu nunca pude verbalizar, por Kelsey e Suzanne, mulheres que me deram força tantas vezes não pude contar.
No aeroporto descontraímos um pouco e brincamos novamente como se eu não estivesse partindo, tiramos uma ultima foto e chegou o doloroso momento da despedida final, passar pra sala de embarque adeus
Elas gritavam, me agarravam, foi tão difícil, as pessoas ao redor tentaram consolar, passei o detector de metais e coloquei as mãos no joelho procurando folego, olhei pra trás e vi a cena triste das mãos que acenavam, olhos e caras vermelhas de choro, parti do campo de visão pois tinha medo do coração parar sei lá.
Os dias que seguiram e até hoje eu só lembro do que foi bom, os dias cinzas, os dias de cama e febre com saudade de casa, os dias de neve sem fim, o frio cortante, a birra das meninas, as tretas loucas de criança, as pilhas de roupa e a comida horrível, os contar de moedinha, pobreza, lanche ruizão d burger king, eu esqueci tudo e só sentia saudade, coração humano meio ridículo, só lembrei de bicicletas, noites raras quentes de verão, as viagens madrugueiras, o sol partindo as onze da noite, tardes no trampolin, torta de maça, chocomel, bitoquinhas no nariz, presentes de natal e vinhos depois das onze, só lembrei das comidas tailandesas, dos dias infernais indo pro centro de esportes debaixo de neve e trams parados, só lembrei da gente patinando no gelo e essa sou eu, Jenny até hoje, prazer!
Nunca mais os vi, havia uma promessa sempre, dinheiro nunca houve.
Nunca mais.
Mas seguem as cartas e presentes no natal, as mensagens, os áudios, as noticias, cada dia com mais espaço, menos choro, menos saudade, mas fica, muita coisa fica, todo dia uma pequena lembrança diferente, pra sempre.
E naquele ultimo voo de volta eu pedi tudo em holandês, isso me deixou ridiculamente feliz, inclusive o famigerado suco de laranja inimaginável
SINAASAPPELSAP ALSJEBLIEFT !!!
Goodbye! Sleep well!
Era tanta tranqueira eu havia acumulado em um ano que dava até medo, fazia o processo sempre pelas noites para as meninas não verem, porque era sempre doloroso Amber perguntando o que eu estava fazendo, ela gostava de fingir eu não iria embora. Hanna durona fazia descaso, era a forma dela de aceitar a situação sem sentir dor.
A primeira despedida foi da Iara, ela me pediu pra não chorar, me abraçou muito e muito forte, beijou meu ombro como sempre fazia, não olhou pra trás, a vi virar a esquina com seu véu marrom cobrindo a cabeça, lágrimas molhando a escrivaninha.
Tivemos um jantar de despedida, onde eu cozinhei algo brasileiro e apresentei danças brasileiras no projetor, tentei discursar não consegui, dancei essas danças e ainda posso lembrar dos olhos deles que não desviaram nem um segundo.
O ultimo dia foi estranhamente feliz porque seguíamos fingindo nada estava acontecendo, comemos juntos como sempre, dividimos a torta de maça com chantilly como de costume.
Era então hora de partir, parecia íamos pra um passeio mas não era, Hanna continuava durona e fazendo piadas "você nunca mais vai ver esse quarto pois bem"
Fechei a porta do quarto, branco sem todas minhas fotos espalhadas e o olho embotou em lagrimas, tentei nao chorar. Hanna continuava sendo durona, Amber já tinha o olhar triste.
Entramos no carro, Mark colocou as direções pro aeroporto no gps, apertamos sinto, eu entre as duas, Kelsey, grande amiga, no banco de trás, Suzanne no banco do passageiro.
Começamos a partir e eu fiquei vendo a casa desaparecer sem parar de olhar um segundo, ai viramos a rua e a casa sumiu, eu voltei meu olhos pra dentro do carro e olhei pra elas, olhei pra Hanna e vi o olhar durão havia desaparecido, ela começou a chorar, eu comecei a chorar, Amber começou a chorar, Kelsey e Suzanne, Mark fez silencio.
Choramos sem parar as exatas uma hora e meia de trajeto ate Schiphol, Hanna chorava tanto, soluçado, doído, eu apoiava meu queixo na cabeça dela e mantive a outra mão acalentando Amber, chorei tanto quase não conseguia enxergar os moinhos de vento, os campos de tulipa e o céu cinza de sempre, nenhuma palavra foi dita, a gente só chorou sem intervalos, eu acho nunca experimentei aquele sentimento de novo, era absurdamente triste ao mesmo tempo que era belo, eram 365 dias girando no estomago, pesando nos ombros, invadindo as frestas todas, era um amor tão absurdo por elas que eu nunca pude verbalizar, por Kelsey e Suzanne, mulheres que me deram força tantas vezes não pude contar.
No aeroporto descontraímos um pouco e brincamos novamente como se eu não estivesse partindo, tiramos uma ultima foto e chegou o doloroso momento da despedida final, passar pra sala de embarque adeus
Elas gritavam, me agarravam, foi tão difícil, as pessoas ao redor tentaram consolar, passei o detector de metais e coloquei as mãos no joelho procurando folego, olhei pra trás e vi a cena triste das mãos que acenavam, olhos e caras vermelhas de choro, parti do campo de visão pois tinha medo do coração parar sei lá.
Os dias que seguiram e até hoje eu só lembro do que foi bom, os dias cinzas, os dias de cama e febre com saudade de casa, os dias de neve sem fim, o frio cortante, a birra das meninas, as tretas loucas de criança, as pilhas de roupa e a comida horrível, os contar de moedinha, pobreza, lanche ruizão d burger king, eu esqueci tudo e só sentia saudade, coração humano meio ridículo, só lembrei de bicicletas, noites raras quentes de verão, as viagens madrugueiras, o sol partindo as onze da noite, tardes no trampolin, torta de maça, chocomel, bitoquinhas no nariz, presentes de natal e vinhos depois das onze, só lembrei das comidas tailandesas, dos dias infernais indo pro centro de esportes debaixo de neve e trams parados, só lembrei da gente patinando no gelo e essa sou eu, Jenny até hoje, prazer!
Nunca mais os vi, havia uma promessa sempre, dinheiro nunca houve.
Nunca mais.
Mas seguem as cartas e presentes no natal, as mensagens, os áudios, as noticias, cada dia com mais espaço, menos choro, menos saudade, mas fica, muita coisa fica, todo dia uma pequena lembrança diferente, pra sempre.
E naquele ultimo voo de volta eu pedi tudo em holandês, isso me deixou ridiculamente feliz, inclusive o famigerado suco de laranja inimaginável
SINAASAPPELSAP ALSJEBLIEFT !!!
Goodbye! Sleep well!
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Amsterdam e o sol
era uma bicicleta de aluguel amarela
era eu em cima dela
freios no pedal, meus favoritos
era uma amiga bretã visitando
o sol tinha trazido uma nova cidade pra mim
percorremos toda a cidade nessas bicicletas amarelas
tinha gente fazendo despedida de solteiro em cada esquina
turistas saindo de todos os coffe shops da cidade
percorrendo animados a região do red light district, babacas
amsterdam tinha nova cores, novos rostos, a juventude nas ruas sorrindo
segurando suas heinekens, seus baseados livremente
o sol iluminava as ruas, dourava os canais, os barcos, os transeuntes
a transito de bicis era enlouquecedor e divertido
o cheiro de bagulí por todas ruas e vielas, os grafittes isolados, as casas em barcos
não sentia nem um pouco saudade dos dias cinzas, do frio em amsterdam
o verão tinha desbrochado flores e amores
e Van Gogh estava sorrindo
a sombra das árvores entre o sol
meu coração virando cores misturando-se em paletas
eu estava derretendo
eu estava transbordando.
pelas ruas inundadas de verão em A'dam.
era eu em cima dela
freios no pedal, meus favoritos
era uma amiga bretã visitando
o sol tinha trazido uma nova cidade pra mim
percorremos toda a cidade nessas bicicletas amarelas
tinha gente fazendo despedida de solteiro em cada esquina
turistas saindo de todos os coffe shops da cidade
percorrendo animados a região do red light district, babacas
amsterdam tinha nova cores, novos rostos, a juventude nas ruas sorrindo
segurando suas heinekens, seus baseados livremente
o sol iluminava as ruas, dourava os canais, os barcos, os transeuntes
a transito de bicis era enlouquecedor e divertido
o cheiro de bagulí por todas ruas e vielas, os grafittes isolados, as casas em barcos
não sentia nem um pouco saudade dos dias cinzas, do frio em amsterdam
o verão tinha desbrochado flores e amores
e Van Gogh estava sorrindo
a sombra das árvores entre o sol
meu coração virando cores misturando-se em paletas
eu estava derretendo
eu estava transbordando.
pelas ruas inundadas de verão em A'dam.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Jamal e a flor
Fomos toda a família pra igreja do bairro, acho que foi a última vez que fui a igreja na vida.
O motivo era certo: missa pra inciar os trabalhos de catecismo de Amber.
Havíamos passado uma manhã inteira juntas aquela semana, para fazermos uma flor de papel com uma foto dela ao meio, era uma lição de casa da primeira semana de sua catequese, seria usada na igreja, diziam.
Fizemos uma flor colorida, tamanho médio, com uma foto exibindo seus grandes dentes brancos, ela estava feliz e orgulhosa, eu também estava.
Entrei na igreja com carinho por Amber, as igrejas holandesas de tijolos avermelhados, piso muito claro, madeira das colonias, tinha um coral de crianças louras e mais muitas cabeças louras naquele mar holandês nos acentos a frente.
O padre tinha aquela aparência de todo padre, simpático tentando ao máximo ser engraçado com crianças mesmo que com pouco sucesso - Amber não riu muito e ela sabia rir de coisas realmente engraçadas, tanto quanto ela era.
O coral cantava lindo, era emocionante mesmo de ouvir e como em todo evento naquela minha vida de país baixo, ver a Amber fazendo qualquer coisa, ou a Hanna, sempre trazia lágrimas aos olhos, porque tudo tinha um sabor amargo e doce de única vez e era sempre um constante adeus irreparável e insolúvel de todas as coisas.
O momento da flor então chegou, o padre ia chamando o nome das crianças, uma por uma e elas deixavam suas famílias para ir até o altar, entregavam a flor que o padre colocava em um grande vaso e respondiam algumas perguntas aleatórias sobre suas vidas. Amber ficou tímida, as bochechas avermelharam.
E no meio de todos aqueles nomes holandeses - Rosalie, Luuk, Lisa, Tim, Lars, Roos - o padre chamou um nome diferente - Jamal, Jamal... Jamal.
Jamal demorou um pouco para responder, estava sentado no fundo da igreja, no último banco, com a única família negra em toda visão. Ele caminhou em direção ao altar de forma compassada e rítmica, com seus cabelos trançados, arrancando olhares curiosos; a flor de Jamal era a maior flor de todas as flores, possível daquela missa de catecismo e todas as outras anteriores, era uma flor linda, realmente gigante, redonda, de pétalas multicolores, cores vivas, vibrantes e fortes, uma foto bem grande dele ao meio.
A flor de Jamal cobriu todas as outras flores, tinha pouco vaso para todas aquelas cores em dança excentrica de amarelo, vermelho, verde e roxo.
Ela, em toda sua efemeridade, em toda sua saudade.
Era livre.
O motivo era certo: missa pra inciar os trabalhos de catecismo de Amber.
Havíamos passado uma manhã inteira juntas aquela semana, para fazermos uma flor de papel com uma foto dela ao meio, era uma lição de casa da primeira semana de sua catequese, seria usada na igreja, diziam.
Fizemos uma flor colorida, tamanho médio, com uma foto exibindo seus grandes dentes brancos, ela estava feliz e orgulhosa, eu também estava.
Entrei na igreja com carinho por Amber, as igrejas holandesas de tijolos avermelhados, piso muito claro, madeira das colonias, tinha um coral de crianças louras e mais muitas cabeças louras naquele mar holandês nos acentos a frente.
O padre tinha aquela aparência de todo padre, simpático tentando ao máximo ser engraçado com crianças mesmo que com pouco sucesso - Amber não riu muito e ela sabia rir de coisas realmente engraçadas, tanto quanto ela era.
O coral cantava lindo, era emocionante mesmo de ouvir e como em todo evento naquela minha vida de país baixo, ver a Amber fazendo qualquer coisa, ou a Hanna, sempre trazia lágrimas aos olhos, porque tudo tinha um sabor amargo e doce de única vez e era sempre um constante adeus irreparável e insolúvel de todas as coisas.
O momento da flor então chegou, o padre ia chamando o nome das crianças, uma por uma e elas deixavam suas famílias para ir até o altar, entregavam a flor que o padre colocava em um grande vaso e respondiam algumas perguntas aleatórias sobre suas vidas. Amber ficou tímida, as bochechas avermelharam.
E no meio de todos aqueles nomes holandeses - Rosalie, Luuk, Lisa, Tim, Lars, Roos - o padre chamou um nome diferente - Jamal, Jamal... Jamal.
Jamal demorou um pouco para responder, estava sentado no fundo da igreja, no último banco, com a única família negra em toda visão. Ele caminhou em direção ao altar de forma compassada e rítmica, com seus cabelos trançados, arrancando olhares curiosos; a flor de Jamal era a maior flor de todas as flores, possível daquela missa de catecismo e todas as outras anteriores, era uma flor linda, realmente gigante, redonda, de pétalas multicolores, cores vivas, vibrantes e fortes, uma foto bem grande dele ao meio.
A flor de Jamal cobriu todas as outras flores, tinha pouco vaso para todas aquelas cores em dança excentrica de amarelo, vermelho, verde e roxo.
Ela, em toda sua efemeridade, em toda sua saudade.
Era livre.
terça-feira, 15 de abril de 2014
balões em multicolores
As pessoas começaram a ir embora de pouco em pouco, já tão agitadas pela alegria dos dias que invadiam os corações pelo verão parisiense.
Nós dois fomos ficando, cada vez mais agitados também, pela noite quente beira ao rio que nos consumia acelerada e doce.
Nos vimos os dois, alí sentados, depois de um dia cheio de gestos e palavras, de um reencontro repentino cheio de balões multicoloridos, malabares, amigos, amor e vinho.
As palavras foram encurtando, dando espaço para um silêncio suave. coração batia em compasso de canção feliz e rápida, calma e derretida.
Um jogo de palavras soltas qualquer, um óculos também e a certeza de que queríamos a mesma coisa veio assim, fugaz, dentro de um ritmo sútil e verossímil.
Dei-lhe um beijo na testa, um na bochecha, outro no queixo, leves beijos em toda sua face, ele os recebia em paz e de coração aberto.
"its feels so good" sussurrou.
Alcancei seus lábios e nos beijamos de forma inquieta e terna e quente, durou um instante e foi pra sempre.
Saímos pela cidade apaixonados dentro daquelas horas, brincávamos com todos os transeuntes, todas as verdades ditas e as não ditas, corríamos, andávamos lento, ríamos mais, andávamos mais rápido, atravessávamos onde não se podia, a morte seria impossível dentro de tamanha eloquência dos sentidos.
Cerrei meus olhos e pedi que me guiasse e o fez, braços passados em minha nuca, beijava-me a testa, dava orientações tão claras, sua voz entrava dentro da parte mais doce e suave que há em mim, por todos os cantos, não me deixou cair, nem tropeçar, me guiou pela cidade luz sem que nenhuma luz por mim precisasse ser vista, colocou sem saber aquele verão, em uma fotografia em preto, branco, em filtros frutacor, em monocromático e sépia.
Chegamos em seu apartamento no 16º arrondissement.
E tudo foi amor, calor e saudades.
Calor, amor e saudades
Amor e saudades
Saudades...
_____________________________________________________________
Nós dois fomos ficando, cada vez mais agitados também, pela noite quente beira ao rio que nos consumia acelerada e doce.
Nos vimos os dois, alí sentados, depois de um dia cheio de gestos e palavras, de um reencontro repentino cheio de balões multicoloridos, malabares, amigos, amor e vinho.
As palavras foram encurtando, dando espaço para um silêncio suave. coração batia em compasso de canção feliz e rápida, calma e derretida.
Um jogo de palavras soltas qualquer, um óculos também e a certeza de que queríamos a mesma coisa veio assim, fugaz, dentro de um ritmo sútil e verossímil.
Dei-lhe um beijo na testa, um na bochecha, outro no queixo, leves beijos em toda sua face, ele os recebia em paz e de coração aberto.
"its feels so good" sussurrou.
Alcancei seus lábios e nos beijamos de forma inquieta e terna e quente, durou um instante e foi pra sempre.
Saímos pela cidade apaixonados dentro daquelas horas, brincávamos com todos os transeuntes, todas as verdades ditas e as não ditas, corríamos, andávamos lento, ríamos mais, andávamos mais rápido, atravessávamos onde não se podia, a morte seria impossível dentro de tamanha eloquência dos sentidos.
Cerrei meus olhos e pedi que me guiasse e o fez, braços passados em minha nuca, beijava-me a testa, dava orientações tão claras, sua voz entrava dentro da parte mais doce e suave que há em mim, por todos os cantos, não me deixou cair, nem tropeçar, me guiou pela cidade luz sem que nenhuma luz por mim precisasse ser vista, colocou sem saber aquele verão, em uma fotografia em preto, branco, em filtros frutacor, em monocromático e sépia.
Chegamos em seu apartamento no 16º arrondissement.
E tudo foi amor, calor e saudades.
Calor, amor e saudades
Amor e saudades
Saudades...
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sábado, 21 de setembro de 2013
nosso universo no jardim
posso me lembrar que o sol na holanda apesar de escasso, quando vinha era muito mais belo que qualquer sol no mundo, talvez devido a sua ação renovadora nas pessoas, talvez tamanha era a ansia que todos tinham por ele e como em amor comemoravam sua chegada.
nos dias de sol nós, eu e as meninas, em nosso universo, gostávamos de brincar no jardim, em principal pulando na cama elástica, elas gostavam muito de brincar comigo, porque com meu contrapeso elas conseguiam ir muito mais alto, muito mais.
'vamos jenny, só com você eu chego muito alto'
e lá íamos nós pular e pular, e eu realmente conseguia fazer elas chegarem muito alto, era só alternar nossos pulos, e sempre de mãos dadas, elas não iam se não estivéssemos de mãos bem dadas, as três, e riamos, e riamos, e depois jogávamos nossos corpos inteiros na cama, que iam pulando até sossegar, e elas rolavam por cima de mim e todas riamos felizes, e eu lembro dos raios de sol que iluminavam suas faces rosadas, um sol claro e luminoso, suas faces e seus dentões de crianças sorrindo, o céu azulinho, azulinho, com nuvens cortadas de lado à lado.
às vezes me pediam para fechar os olhos, e me faziam massagem nos pés e nas mãos e nos braços, com água e sabão pra refrescar, levavam muito à serio, depois revezávamos, era a simplicidade mais doce de nossas vidas.
"te amo meninas"
"te amo jenny"
cócegas
abraços
beijos na testa
dessas memórias que são parte de mim
dessas partes de mim que em palavra o amor não cabe.
nos dias de sol nós, eu e as meninas, em nosso universo, gostávamos de brincar no jardim, em principal pulando na cama elástica, elas gostavam muito de brincar comigo, porque com meu contrapeso elas conseguiam ir muito mais alto, muito mais.
'vamos jenny, só com você eu chego muito alto'
e lá íamos nós pular e pular, e eu realmente conseguia fazer elas chegarem muito alto, era só alternar nossos pulos, e sempre de mãos dadas, elas não iam se não estivéssemos de mãos bem dadas, as três, e riamos, e riamos, e depois jogávamos nossos corpos inteiros na cama, que iam pulando até sossegar, e elas rolavam por cima de mim e todas riamos felizes, e eu lembro dos raios de sol que iluminavam suas faces rosadas, um sol claro e luminoso, suas faces e seus dentões de crianças sorrindo, o céu azulinho, azulinho, com nuvens cortadas de lado à lado.
às vezes me pediam para fechar os olhos, e me faziam massagem nos pés e nas mãos e nos braços, com água e sabão pra refrescar, levavam muito à serio, depois revezávamos, era a simplicidade mais doce de nossas vidas.
"te amo meninas"
"te amo jenny"
cócegas
abraços
beijos na testa
dessas memórias que são parte de mim
dessas partes de mim que em palavra o amor não cabe.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
where is bjork now?
leia ao som de - Saeglopur Sigur Ros
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Quando cheguei em Reykjavik a emoção, euforia mais um monte de coisas tomaram conta de tudo que posso me lembrar.
Era como chegar na lua ou coisa parecida, cheguei no inicio da madrugada e não tinha mesmo noite, era verdade, o céu estava claro como as seis da tarde e nunca mais escuro que isso. Peguei um ônibus no aeroporto para o centro da cidade que fazia parada nos hostels, o meu era o último, era como 2 da manhã e já estava amanhecendo.
Não fiquei muito no hostel, só uma noite, no dia seguinte fui pra um couch do CS, era um casal, a menina era búlgara e o cara islandes da gema, se assim posso dizer, no primeiro dia dediquei a andar pela cidade, achava graça das lojas de souvenir que exibiam camisetas com dizeres como "where is bjork now?" e "simpathy for de devil" com um desenho de um homem palitinho dando um lenço pra um demônio, também palitinho, sentado em um banquinho chorando e talz. O senso de humor islandês ficava estampado em todo lugar, eu amava, a minha piada favorita, que ouvi de muitos locais era a charadinha "o que fazer se você se perder em uma floresta na Islândia? - fique de pé" - as árvores islandesas são sempre anãs, os vikings cortaram todas antes de perceber que em chão de lava o crescimento de qualquer coisa é muito difícil e demorado, que dó.
Realmente não vi a Bjork, nem o Jonsi, mas por todo canto que me perguntavam o que eu estava fazendo lá eu dizia que era por causa do Sigur Ros, até o dia, em um festival de música em uma cidade litorânea - como todas- um mocinho disse que aquela era a cidade onde Jonsi tinha sua casa de verão e me levou até lá, entrei no jardim e fiquei curiando pela janela, observando cada detalhe da casa do Jonsi, foi bem bonitinho.
Bebendo cerveja Viking (claro) conversando com essa galerinha singular pra burro, era como se ser tão poucos no mundo todo obrigasse as pessoas a serem naturalmente engraçadas, amáveis e eternas na memória, como pra se perpetuar de alguma maneira.
Topa foi uma guria que me levou pra passear pela cidade nos primeiros dias, morava na casa dos pais com a namorada, passamos em sua casa e todos eles jantavam com a namorada conversando super entrosados como se a menina fosse membro da família, o amor entre duas mulheres ficou muito nitidamente natural naquele contexto como sempre deveria em todo lugar do mundo, eu achei tão lindo, alí naquela casinha islandesa já estava acontecendo. Ela me levou pro seu bar favorito na cidade e me inspirou a comer panquecas americanas com bacon e muito syrup em cima, eu nunca me esqueci de nada disso, até hoje faço reproduções desse prato quando possível.
Fiz passeios turísticos dois dias, mas eram caros e detestava fazer tudo com minutos marcados, mas foi com esses passeios que fui ver os geysers e a lagoa azul.
Os geysers- coisa mais absurda desse mundo, você fica lá impaciente vendo aquela água borbulhar, fede pra burro, tipo enxofre e aí pumba, a água explode loucamente pelo ar, muito alto, muito braba, muito linda e te molha e te respinga e você tipo chora.
A lagoa azul- coisa tão surreal, tinha que ficar pelado antes de entrar, era regra na Islândia, antes de entrar em qualquer piscina, banho geral sem nenhuma peça, na lagoa foi assim, era quentinha e tinha um bar no centro, tomei um suco de muitas muitas coisas, grosso e azedo, às vezes a água ficava muito quente, me dava um pouco de medo, e o spa deixava uns baldes com a lama branca extraída do fundo pro povo passar no corpo, e eles realmente passavam, em mim só deu muita coceira.
Sorte os meus hosts me convidaram pra acampar com eles no terceiro dia, acampar na Islândia era surreal porque você ia dormir com muitos muitos agasalhos e sacos de dormir pra às três da manhã, quando o sol já estava bem no alto você começar a semi fritar e sem escuridão total às vezes era difícil pegar no sono, bem dificil na real!
Acampando percorremos o lado sul da ilha, vimos quedas d'água cheias de beleza, vales, centenas de ovelhas, inúmeros arco-iris, cidadezinhas, festivais, praias de areia negra e tanto, tanto espaço, eu ouvia Sigur Ros o dia inteiro, e caminhava, e agradecia, e chorava e comia, que delícia era a comida de acampamento, e agradecia mais um pouco, e chorava de emoção de novo.
Ultimo dia fizemos uma trilha em busca do rio que corria quente, falávamos dele desde o primeiro dia, e a caminhada foi longa mas tão gratificante, a vista era de tirar o folego e a água era realmente tão quentinha, tão cristalina, tão incrível e acolhedora, sabe aquela expressão "agora eu posso morrer" então.
Foi difícil ver a Islândia sumir quando a aeronave já alcançava as nuvens.
Foram oito dias que foram anos dentro de mim, eu entendi tudo, eu entendi tudo e parecia abraçar o mundo, sinto saudade muitas vezes, a saudade misturada com agradecimento por ter conseguido, é um dos sonhos realizados mais doces que tive, trabalhei duro, pedi ajuda, guardei todo centavo pra aquela viagem e nossa, foi o dinheiro mais bem gasto de toda minha vida.
A Islândia é minha, aqui dentro, para o todo sempre até o fim, e desculpe-me, nunca vai caber realmente em palavra alguma.
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Quando cheguei em Reykjavik a emoção, euforia mais um monte de coisas tomaram conta de tudo que posso me lembrar.
Era como chegar na lua ou coisa parecida, cheguei no inicio da madrugada e não tinha mesmo noite, era verdade, o céu estava claro como as seis da tarde e nunca mais escuro que isso. Peguei um ônibus no aeroporto para o centro da cidade que fazia parada nos hostels, o meu era o último, era como 2 da manhã e já estava amanhecendo.
Não fiquei muito no hostel, só uma noite, no dia seguinte fui pra um couch do CS, era um casal, a menina era búlgara e o cara islandes da gema, se assim posso dizer, no primeiro dia dediquei a andar pela cidade, achava graça das lojas de souvenir que exibiam camisetas com dizeres como "where is bjork now?" e "simpathy for de devil" com um desenho de um homem palitinho dando um lenço pra um demônio, também palitinho, sentado em um banquinho chorando e talz. O senso de humor islandês ficava estampado em todo lugar, eu amava, a minha piada favorita, que ouvi de muitos locais era a charadinha "o que fazer se você se perder em uma floresta na Islândia? - fique de pé" - as árvores islandesas são sempre anãs, os vikings cortaram todas antes de perceber que em chão de lava o crescimento de qualquer coisa é muito difícil e demorado, que dó.
Realmente não vi a Bjork, nem o Jonsi, mas por todo canto que me perguntavam o que eu estava fazendo lá eu dizia que era por causa do Sigur Ros, até o dia, em um festival de música em uma cidade litorânea - como todas- um mocinho disse que aquela era a cidade onde Jonsi tinha sua casa de verão e me levou até lá, entrei no jardim e fiquei curiando pela janela, observando cada detalhe da casa do Jonsi, foi bem bonitinho.
Bebendo cerveja Viking (claro) conversando com essa galerinha singular pra burro, era como se ser tão poucos no mundo todo obrigasse as pessoas a serem naturalmente engraçadas, amáveis e eternas na memória, como pra se perpetuar de alguma maneira.
Topa foi uma guria que me levou pra passear pela cidade nos primeiros dias, morava na casa dos pais com a namorada, passamos em sua casa e todos eles jantavam com a namorada conversando super entrosados como se a menina fosse membro da família, o amor entre duas mulheres ficou muito nitidamente natural naquele contexto como sempre deveria em todo lugar do mundo, eu achei tão lindo, alí naquela casinha islandesa já estava acontecendo. Ela me levou pro seu bar favorito na cidade e me inspirou a comer panquecas americanas com bacon e muito syrup em cima, eu nunca me esqueci de nada disso, até hoje faço reproduções desse prato quando possível.
Fiz passeios turísticos dois dias, mas eram caros e detestava fazer tudo com minutos marcados, mas foi com esses passeios que fui ver os geysers e a lagoa azul.
Os geysers- coisa mais absurda desse mundo, você fica lá impaciente vendo aquela água borbulhar, fede pra burro, tipo enxofre e aí pumba, a água explode loucamente pelo ar, muito alto, muito braba, muito linda e te molha e te respinga e você tipo chora.
A lagoa azul- coisa tão surreal, tinha que ficar pelado antes de entrar, era regra na Islândia, antes de entrar em qualquer piscina, banho geral sem nenhuma peça, na lagoa foi assim, era quentinha e tinha um bar no centro, tomei um suco de muitas muitas coisas, grosso e azedo, às vezes a água ficava muito quente, me dava um pouco de medo, e o spa deixava uns baldes com a lama branca extraída do fundo pro povo passar no corpo, e eles realmente passavam, em mim só deu muita coceira.
Sorte os meus hosts me convidaram pra acampar com eles no terceiro dia, acampar na Islândia era surreal porque você ia dormir com muitos muitos agasalhos e sacos de dormir pra às três da manhã, quando o sol já estava bem no alto você começar a semi fritar e sem escuridão total às vezes era difícil pegar no sono, bem dificil na real!
Acampando percorremos o lado sul da ilha, vimos quedas d'água cheias de beleza, vales, centenas de ovelhas, inúmeros arco-iris, cidadezinhas, festivais, praias de areia negra e tanto, tanto espaço, eu ouvia Sigur Ros o dia inteiro, e caminhava, e agradecia, e chorava e comia, que delícia era a comida de acampamento, e agradecia mais um pouco, e chorava de emoção de novo.
Ultimo dia fizemos uma trilha em busca do rio que corria quente, falávamos dele desde o primeiro dia, e a caminhada foi longa mas tão gratificante, a vista era de tirar o folego e a água era realmente tão quentinha, tão cristalina, tão incrível e acolhedora, sabe aquela expressão "agora eu posso morrer" então.
Foi difícil ver a Islândia sumir quando a aeronave já alcançava as nuvens.
Foram oito dias que foram anos dentro de mim, eu entendi tudo, eu entendi tudo e parecia abraçar o mundo, sinto saudade muitas vezes, a saudade misturada com agradecimento por ter conseguido, é um dos sonhos realizados mais doces que tive, trabalhei duro, pedi ajuda, guardei todo centavo pra aquela viagem e nossa, foi o dinheiro mais bem gasto de toda minha vida.
A Islândia é minha, aqui dentro, para o todo sempre até o fim, e desculpe-me, nunca vai caber realmente em palavra alguma.
Inní Mér Syngur Vitleysingur |
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