quarta-feira, 11 de maio de 2011

.mistério do planeta.





leia ouvindo Mistério do Planeta - Novos Baianos


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Sylvie disse:
- Você não quer subir hoje anoite pras montanhas menina? Já está todo mundo lá !!
- Ah okay, estou um pouco cansada da viagem mas tudo bem, porque não?
Estávamos na casa de seus pais, no pequeno vilarejo de Kayserberg, Alsace, França. Grandes amigos dela nos esperavam em uma cabana no topo de uma montanha entre a França e a Suíça para a celebração do ano novo, era dia 30, eu tinha acabado de chegar de quatro dias em Paris, e ela estava inquieta, não queria mais esperar, nem o amanhecer nem nada, e eu maluca que sou, topei sem questionar muito.
Fazia uns -5 lá fora e começamos a subir de carro as montanhas, cada quilometro percorrido os graus iam baixando, chegou um momento que de carro não era mais possível, então descemos e descemos todas as mil coisas que Sylvie queria carregar lá pra cima junto com a gente, bebidas, comida de ano novo e tudo mais, e eu ainda pensando que a cabana era só alguns metros dali.
NOT. A cabana era a a sei lá uns 700 metros dali em ascendência constante, tínhamos quilos de coisa pra subir e um frio já beirando os -15, uma lanterna que funcionava a base de energia da força humana, um trenó onde colocamos as coisas e aparatos de fazer esqui. Naquele momento eu queria matar a Sylvie, mas jamais o faria porque a amo muito então a solução foi rir e contemplar o céu estrelado. Como nossa garrafa d'agua deslizou do trenó e se perdeu, quando batia a sede o jeito era apanhar neve e deixar ela derreter na boca.
Depois de uns 10 minutos ou mais de caminhada, quando já estávamos cogitando a possibilidade de enterrarmos as comidas e vinhos na neve para buscar ao amanhecer, dois meninos do grupo vieram ao nosso encontro para ajudar e lá fomos nos, foram mais uns 20 minutos de subida, e lá em cima a neve estava tão densa e alta que metade da perna as vezes se afundava, e teve até um penhasco assustador, até hoje não entendi ao certo do porque a ideia de fazer a subida tão tarde, coisas de Sylvie que no fim são sempre divertidas.
Nunca me arrependi de ter subido as montanhas, foram tres dias em um lugar que ao amanhecer parecia que estávamos acima do céu, as nuvens lá embaixo, e o sol brilhava quase sempre, nevou na descida no entanto, mas foi muito bonito. Lá em cima gente de dois lados totalmente opostos da França, alsacianos e bretões e uma brasileira, que apartir de algumas horas tinham virado companheiros, dividíamos as refeições e tudo. Gente muito única, como um moço que trabalhava ensinando presidiários a cultivarem seus próprios legumes e outras singularidades assim.
Em uma manhã caminhei horas ouvindo Novos Baianos, meu olhos já mal conseguiam absorver tanta neve e tanta beleza, tanta paz, os raios de sol entre as arvores, e a musica me dava toda essa sensação paradoxal e estar alí, lembrando das ruas da minha cidade brasileira. Era terno.


Sylvie estava muito preocupada quando voltei, acreditando que eu tinha caido de um penhasco e morrido, na mesma tarde uma amiga dela que chegou me perguntou "Ah você é a irmãzinha da Sylvie certo?"


E mesmo que o jantar de ano novo tenha sido rã ao molho e o chuveiro da cabana ficar em uma área que não tinha NENHUM tipo de aquecimento, eu estava feliz, eu estava feliz demais. 



Saudades dessas famílias espalhadas pelo mundo.





Vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos, e pela lei natural dos encontros eu deixo e recebo um tanto...


Vista da Cabana

Jantar de Ano Novo


Um comentário:

Sy disse...

Ai, irmazinha, realmente... Foi bem louco de subir la encima aquela noite. Mas também nao consigo me arepender por ter levado você, brazileirinha colorida, nas montanhas frias e brancas para uns dias unicos. Te amo : )