quinta-feira, 1 de novembro de 2012

detalhes que me retornam quando eu ando de trem

a saudade é composta por um conjunto de flashes de memorias que nos podem atacar a qualquer horário do dia, no meu caso, principalmente, sentada no trem e às vezes até mareja os olhos.
as pessoas todas dessas memorias, nem devem saber o quão seus detalhes de gestos tão particulares me deixaram sobre as retinas da saudade.
E nem precisamos ter convivido tanto tempo, eu produzo saudade com facilidade, aos olhos da bondade e de um dia de sorriso partilhado, de gente que escreveu meu nome em pedaço de papel pra não esquecer, mas quiça tenha esquecido, não eu, e não me abala em  tanto as deficiências da mutualidade, dentro de mim as coisas vivem em paz, e em viagens, onde despedida era liquidação, os detalhes, esses eram essenciais da existência efêmera.
lembro-me de um olhar que passeava muito rápido junto com a velocidade do metro indo pelas estações, teve aquele beijo que era dado no ombro, a busca insistente das vestes de dormir por debaixo dos travesseiros, os bilhetinhos deixados sobre o balcão da cozinha, o riso incontido, as caras de susto mais engraçadas do mundo, os ataques de stress por bobagem e a risadaria mais tarde, um andar galante com ornamentos fantásticos dentro de um mistério tão bonito, a mesma escolha pelos mesmos sabores de sorvete todas as vezes, e giravam e  pulavam, suas roupas largas e suas meias em multicoloridades, sempre sem fazer par, a cantoria pelos corredores, seu cheiro de flores, seu sotaque engraçado, aquele jeito de fumar e de apertar os lábios com o polegar apos a primeira tragada, a risada de senhor de noventa anos mesmo sendo tão jovem, tão jovem, tão vivo.
Eu catalogo esses gestos, eu os imprimo na essência, eu os tento reproduzir em uma forma discreta de não apenas lembrar de todas essas pessoas, mas de vivencia-las em meus passos longiquos, ninguém precisa saber disso, embora agora talvez o saiba, mas eu as sinto pelos gestos particulares e a distancia se torna menos assustadora, enfraquecedora de relações e manipuladora das verdades presentes.
e o trem nunca deixou de me levar pra estação certa, mesmo que eu não consiga ver as formas que do lado de fora se apresentam devido aos pingos de chuva.

o amor nunca foi tão simples assim.

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ao som de Sigur Rós - Varðeldur