sexta-feira, 26 de abril de 2013

feliz aniversário uma única vez.

Uma semana antes do meu aniversário, na hora do café da manhã, Amber me perguntou:
- Jenny, você não fica triste de passar seu aniversário longe de sua família?
eu respondi sem pensar duas vezes
- Até fico, mas eu quero partilhar isso com vocês também, será apenas uma vez e será muito incrível, eu sei.

Como de costume em aniversários holandeses, a família te acorda no café da manhã, eu acordei cedo só pra tomar banho e me arrumar e fui deitar fingindo que não sabia de nada, escutei as meninas correndo pela casa, Suzanne também e eu fingindo dormir, lembro que um cara veio trocar a lampada da cozinha e nunca mais parou de falar e meu coração já apertadinho, comecei a ter medo que tivessem me esquecido, só que claro que logicamente NÃO!
Acordaram-me cantando a doce canção de aniversário holandesa com croissants e geleia e muitos presentes, Hanna me deu minha sobremesa favorita, as famosas Soesje, Amber me deu um caderno porque sabia que eu amava escrever o tempo todo, e Mark e Suzanne, a Mark e Suzanne me deram uma Nikon D40 e eu tremia, eu chorava, eu sei lá o que, queria abraça-los até esmaga-los mas acho que eles achariam estranho, então não o fiz.
Durante o dia Kelsey, minha melhor amiga daquele ano, a canadense mais surrealmente linda do cosmos, veio em sua bike amarela me trazer presentes, cds, escritos, postais e doces, muitas mensagens vieram do Brasil também, eu me enchia de universo.
Anoite a família me levou pro Rodizio, o restaurante brasileiro que ficava na praia de Scheveningen, eu achava o nome bem bobo no entanto, mas fui toda feliz da vida, já fazia 11 meses que não comia comida brasileira e chegando lá corri pro buffet e saí colocando tudo no prato, farofa, feijoada, pão de queijo, sim pão de queijo, quando olhei pra trás vi que os holandeses me copiavam e eu dizia "é assim mesmo" eles não faziam ideia de como funcionava essa coisa de  se auto servir, coisa nada comum na Holanda, e foram me copiando. Fiquei frustrada porque todos os funcionários do restaurante eram portugueses ou cabo-verdianos, não encontrei um único brasileiro pra contar a história. Tinha um telão enorme passando lambada, os garçons não paravam de trazer carne, Mark tomou uma caipirinha e ficou bebadinho, o restaurante era uma farra resumindo, muita informação, eu queria rir não sei, os holandeses não sabiam pra onde olhar, o que sentir, eles sempre em ambientes extremamente organizados, de repente alí naquele caos cheio de delícias, e era tanta bunda naquele telão que eu preferi nem dizer nada.
Aí veio o ápice, parou tudo, colocaram uma Bete Carvalho estourando os tímpanos e três meninas semi nuas, com pena, tanga e tudo o que tem direito, desceram pro salão e começaram a sambar loucamente em cima dos clientes, levando ao delírios os pais de família e encantando quem quer que fosse, chamaram Amber pra dançar e ela foi, eu fui junto, as dançarinas eram de cabo-verde também, mas sambavam tão lindo, Suzanne tinha a boca aberta, nem conseguia assimilar.
Voltamos pra casa todos cheio de energia, Mark bêbado de caipirinha, foi levado pra cama guiado pelas filhas, eu fui dormir cheia de amor, alegria, agradecimento e saudade.
Dia seguinte, me deixaram um bilhete no balcão da cozinha

"Jenny, muito obrigada por ter trazido o Brasil pras nossas vidas"
Mark, Suzanne, Hanna e Amber

e eu chorei.

Amber e eu

As dançarinas