sábado, 26 de janeiro de 2013

aquele que se sentou ao meu lado

Entrei na aeronave, sentei, ainda em choque, não tive reação alguma, ainda não tinha ninguém do meu lado, sempre me pergunto quem vai ser essa pessoa, porque pode ser agradável ou um terror absoluto, no mais às vezes fico feliz quando não senta ninguém, em aviões então, classe econômica é claro pra mim, e a falta de espaço é obvia, nos voos da KLM eu teria duas mantas azuis felpudas e não teria que me preocupar se a pessoa fosse uma completa bossal.
Ainda ficava na mente o olhar dos amigos que foram no aeroporto se despedir, meu namorado na época, todos eles chorando e eu partindo, ainda não absorvia direito.
Estava quase todo mundo embarcado e ainda ninguém havia ocupado o assento ao meu lado, já estava conformada com a solidão, quando então um moço alto e bonito apareceu, ele olhou pra mim como se já nos conhecêssemos, como se estivesse me dizendo "aí está você, cheguei finalmente".
Ele realmente estava meio atrasado, e depois que se sentou pouco depois a aeronave entrou em processo de decolagem, eu ainda em estado de choque, e em poucos minutos já estávamos no ár, ainda nenhuma lágrima, foi então quando resolvi olhar pela janela e vi são paulo sumir, e quando são paulo sumiu eu chorei, chorei quase que por meia hora soluçando e tudo, o moço ao meu lado não disse uma palavra mas estranhamente senti que não estava sozinha, quando finalmente parei de chorar ele então resolveu iniciar uma conversa.
E conversamos por exatas 11 horas que se seguiram, como se fossemos amigos de longa data, assistimos a um filme, que eu recomendei "where the wild things are", cada um em sua tela, mas ele fazia questão que estivéssemos sempre sincronizados, ao fim do filme olhei pra ele e percebi que chorava sorrindo, sofri de uma paixão de momento, claro, tínhamos nossos ombros encostados e foi todo nosso contato físico e pra mim isso foi muito bonito de verdade.
A viagem chegava ao fim, já podia ver a colcha de retalho que formavam os pastos holandeses enquanto o piloto esperava permissão pra aterrissar, o céu cinzento como seria quase todos os dias, ansiedade e medo, mas olhar pra Elmar dava uma paz enorme. Cara, como ele foi essencial.

Uma semana depois trocamos dois emails ou menos e nunca mais nos falamos, às vezes  me pergunto se ele era mesmo de verdade.

E o ano todo foi assim, encontro com pessoas que mudaram tudo e partiram.

Queria que ele soubesse, vou escrever um bilhete.


Food Is Still Hot by Karen O and the Kids on Grooveshark