sexta-feira, 2 de março de 2012

.Yara.

Yara vinha às sextas e me abraçava com muita verdade, eu esperava aquele abraço a semana inteira.
Ela tomava seu café habitual e contava da sua semana, logo já tirava seus panos egípcios e iniciava a odisseia pra limpar aquela casa gigantesca e eu ia com pesar começar a passar a pilha de camisas do pai da casa, odeio passar roupa e Yara às vezes queria ajudar.
A gente ficava rindo e conversando pelos corredores, mais tarde eu lavava minha roupa e tentava organizar a zona do meu quarto um pouquinho, ela ria de mim.
Ao meio dia era hora do almoço, sempre almoçávamos juntas, ela quase sempre trazia coisas de casa, eu guardava os restos do jantar especialmente pra isso, e faziamos uma junção de tudo e ficava aquele almoço mais árabe e mais brasileiro, nada de pão com manteiga apenas como fazem os holandeses, ficava tão especial que começamos a convidar a mãe da casa para almoçar conosco e nossos almoços viraram tradição na casa.
Yara ria e ria e sorria, falava inglês misturado com holandês misturado com árabe e eu amava ouvi-la falar.
Dançava e ouvia suas músicas árabes que ecoavam por toda casa, me fazia rir e rir e sorrir, às vezes deitava um pouquinho na minha cama, sempre confessava que não fazia os rituais da sua religião, nem rezava mais, dizia que a vida no ocidente não lhe permitia, eu a chavama de "bad muslim" e ela ria mais.
Ela me chamava de querida, ao partir sempre vinha me dar um beijo terno, no rosto, ou no pescoço, e eu depois de um tempo, comecei a misturar holandes com inglês e nos entendiamos mais e mais, daquela forma meio torta, mas com Yara aprendi que gestos falam tão mais alto.
Teve dias que as histórias foram tristes,nem sempre era fácil ser muçulmana trabalhadora vivendo no ocidente e nem ser brasileira latina pobre vivendo na casa de holandeses tradicionais, mas por toda sorte do mundo, eu tive a Yara.
Em sua casa tudo era tão verdade, o cheiro de comida dançava pela casa, suas filhas, Bisan e Ranin, não me entendiam muito mas nos divertíamos tanto sem necessidade de palavras, comíamos tanto e tudo era feito pelas mãos, sem maquinas pra tudo, como na casa holandesa, eu sentia tanta falta dessa verdade.
Em nossa despedida Yara foi forte, eu não, chorei sem conseguir disfarçar, chorei de uma dor que vinha de um profundo tão imenso e a vi partir, seguindo a pé até o tram. Queria poder abraça-la de novo, ainda mais agora que espera um terceiro filho, queria ouvi-la rir de mim e fazer aqueles sons do Egito.


Yara eu ainda vou conseguir fazer o Ramadan pra me lembrar mais vivamente ainda de você, mas ano passado não consegui.
Te amo muito pra sempre.
Última vez na casa dela

2 comentários:

Indila disse...

As sextas são finais de semana quando ela está aqui! <3

Nadja Kari disse...

Lindo relato! encontrei seu blog através do da Nath, e adorei !!! Muito!!!
beijaaaao e vou virar seguidora!!!