quinta-feira, 10 de maio de 2012

Amor gitano



As pessoas são invisíveis, até que nos demos conta do contexto social e histórico delas.

 Eu fui pra Europa sem saber quem eram os povos Roma, e de repente eles invadiram minha realidade por completo, logo depois que fui pra Macedônia e Dominique me falou tanto sobre eles, antes disso eles me passaram despercebidos.
No Brasil também temos os Roma, mas aqui os chamamos de ciganos, creio que os nossos ciganos são de origem espanhola e na Espanha eles são chamados de gitanos, a imagem que temos deles é daquelas moças com dente de ouro e vestido cheio de cores, que pedem pra ler nossas mãos e podem até mesmo nos levar os anéis, mas em realidade os Roma estão em toda a Europa e em cada lugar eles assumiram uma posição diferenciada, eles são muito comuns na Europa leste, na Macedónia, por exemplo, existe um bairro suburbano de maioria cigana, Choutka, que fui visitar em meu último dia lá, casas humildes e coloridas, cheias de hospitalidade e conversas,  mas todos eles tem essa vontade, devido a miséria, de migrar pra França, Bélgica, Alemanhã e assim vai, e muitos o fizeram, mas as leis de imigração são muito pesadas com eles, os Roma são marginalizados e esquecidos e indesejados por muita gente, ninguém sabe ao certo a trajetória deles, sabe-se que vieram da India por volta de mil anos antes por razões desconhecidas, e esse povo retirante, difícil de se compreender, que falam muitos dialetos, iam assumindo diversas caracteristicas do local encontrado, mantem a pele morena das Índias, e a habilidade para tocar instrumentos como ninguém, no leste são convidados para tocar e dançar em festas de casamento, mas são escorraçados de ônibus de viagens, eu mesma vi acontecer no ônibus que peguei de Skopje para Belgrado, é uma realidade triste, mas cheia de intensidade e mistério. São um bocado paradoxos, tem um sistema de defesa que pode ser hostil, mas a beleza de suas canções me arrepiam a alma, em minha ultima passagem por Bruxelas, encontrei um grupo que tocava em frente a estação, eu contribui com alguns euros e os fotografei, ao sair fui maltratada por um deles que não viu que eu havia já dado alguns euros e esses são os Roma, pessoas difíceis, mas encantadoramente talentosas.
Tony Gatlif, um cineasta Roma de origem argelina erradicado na França fez diversos filmes tentando captar a essencia dos ciganos, e foi no filme Latcho Drom que ele fez o mesmo trajeto dos retirantes começando lá na India subindo até chegar na Europa oeste, e é um filme que me tirou o sono e inquietou o pensamento por muitos dias.
Quando visitei Choutka, passei uma tarde com uma família Roma, junto com Dominique, Estelle e Sylvie, eles nos ofereceram café e chá e biscoitos, e o patriarca da família falou muito macedônio, idioma comum entre ele e Dominique, ele falava nos olhando nos olhos enquanto Dominique traduzia tudo para um francês muito rápido, ou seja, a brasileira ficou em certa desvantagem, mas captei a essência das coisas, maior parte do tempo quis brincar com o neto dele, e brincamos verdadeiramente muito, sem o uso de uma única palavra sequer, naquela tarde eu tive a certeza, eu nunca mais irei brigar e ter rancor por coisas pequenas, e mesmo se o fizer, me sentirei muito mal por isso, não faz o minimo sentido, relações humanas são importantes demais pra isso e aquela foi uma das tardes mais gratificantes de todo meu ano europeu, ter feito rir uma criança que não entederia nenhuma palavra que dissesse.

Deixo vocês com as minhas cenas favoritas de Latcho Drom, pra que possam entender um pouco a essência dos retirantes da Índia, dessa constante diáspora cheia de cores e canções.

Começando onde tudo começou, com a dança fascinante das meninas indianas.


Passando pela Europa Leste com a incrivel Taraf de Haidouks

 

Uma parada de trem na Hungria, sem duvida uma das minhas cenas favoritas de todo filme

 
 


E terminando com a canção apaixonada e triste dos gitanos, enquanto muito deles são retirados das habitações que ocuparam e as portas e janelas são seladas com tijolos e cimento.

 
 


¿Por qué me escupes en la cara?
Qué más te podía hacer ser yo
que por ser morena y gitana?


Os roma instrumentistas de Bruxelas



A família Roma de Choutka (:
















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