quarta-feira, 22 de agosto de 2012

a mais velha.

- Eu não consigo dormir, posso dormir aqui com você?
- Tá, vem, deita aqui!

 E ela deitava, e ela dormia se eu cantasse, ela ficava arredia quando tinha medo, se fechava em um mundo particular, chorava doído de vez em quando mas na maior parte do tempo bancava a durona.
Sabia falar sobre tudo, tinha opiniões concretas sobre tudo quanto era coisa, sempre me surpreendia

- Você ama sua irmã certo?
- Amo muito Jenny e acho que ela tambem me ama, mas irmãs brigam, é assim não é?

Ela me lambia quando estava com saudades, sempre que me ligavam do carro ouvia sua voz chamando meu nome, tinha crises que nunca entendi tão bem, e chorou muito quando eu ri da sua boneca quebrada, me desculpei, eu juro.

- Qual sua estação do ano favorita, verão ou inverno?
- Não sei te responder isso, gosto das duas, o verão é legal porque tem piscina, mas o inverno é legal porque posso fazer bolas de neve, gosto das duas, não tem como responder isso.

Sabia ser independente, podia passar horas brincando com playmobils e outras horas lendo.

- Só mais essa página Jenny, só mais essa.

A gente brigou diversas vezes, de igual pra igual, ainda mais quando ela queria trapacear nos jogos, eu sempre brigava, até esquecia que era a adulta alí.

- Não vou mais brincar, você está me enganando - as regras em holandês me ludibriavam.
- Não estou não! Você que não sabe brincar.
- Você que não sabe, não quero mais.
- Okay, nunca mais brinco com você.
- Nem eu com você!
E saíamos as duas pra cada lado da casa, meia hora depois estávamos brincando de novo.

- Jenny você seria uma palhaço incrível.
Ela sempre dizia, sempre dizia que eu era louca também, mas em geral eramos loucas juntas.

- Jenny você é louca e eu sei, Jenny Penny Jennina Jenniperina
- Você é louca, você que é.

E rolávamos no chão ou algo parecido.

- Como nascem os bebes, você sabe?
- Claro que sei!
- Ah é como?
- As pessoas fazem sexo oras duh.
- Ah.... - eu com cara de nada, esperando o velho papo da cegonha sei lá.

Seus nove anos às vezes pesavam, ela não sabia o que fazer, quando estava muito perdida conversávamos e ela sempre tinha tanto a dizer, queria ter registrado tudo, como queria.

Ela nunca dizia eu te amo, ao contrário da mais nova, mais a mais nova dizia, menos ela queria dizer, eu fazia cocegas nela dizendo "eu te amo tanto, tanto, tanto", ela somente ria e dizia "você é louca e eu sei"

Nos últimos meses ficou fria, sempre lembrava pra todo mundo que estava indo embora, tratava do assunto com ironia e um certo desdem...ás vezes queria me machucar, parecia, esquecer, se proteger.

Quando parti,  foi quem mais chorou, quem mais chorou...


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Eu te amo pra sempre pelo melhor e único ano juntas de nossas vidas, pequena.