quarta-feira, 7 de novembro de 2018

amsterdam palestina

Julho de 2010:

Era uma noite quente de verão em Amsterdam.
Estava com amigos que vieram me visitar.
Amsterdam no verão era animada e colorida, nada a ver com os dias chuvosos e cinzas de inverno, as pessoas pareciam deixar o mau humor de frio guardado no armário, sorrisos e interações quase afetuosas rolavam pelas ruas, turistas apinhados em todos coffe shops da cidade, andando tranquilamente nas ciclovias, tirando a paciência dos ciclistas.
A cidade tinha cheiro de mofo secando no sol e maconha.
Andávamos de um bar à outro, eu estava inquieta, à cada cinco minutos queria mudar de ar e ambiente, devorar a noite quente, o sol que se punha as onze.
Paramos em muitos bares, os amigos compravam vinho, bebi todos de todas cores.
Em um certo momento sentimos fome, entramos em uma kebaberia cheia, parecia ser a melhor do centro.
O homem por trás da chapa tinha semblante simpático, rosto redondo, bochechas marcadas e suor na testa, sotaque carregado, como eu também era estrangeiro naquele país, naquele mundo.
Afetada pelo álcool me pus emocionada, senti saudades de casa e de comida de verdade, sempre achei a comida holandesa triste e as árabes tão verdadeiras e coloridas me davam saudades de casa.
Puxei assunto com o homem da chapa, perguntei de onde ele vinha.
- Palestina.
- Ah sim, esta aqui há quantos anos?
- Oito já!
- Nossa, muito tempo, você sente saudades de casa? Eu estou aqui ha apenas oito meses e sinto muita saudades de casa.
- Eu sinto mas não tenho nada para voltar...
- Como? - fui muito ingenua, eu sei.
- Toda minha família morreu na guerra, toda, não tenho absolutamente ninguém lá...minha mulher, meus filhos. - seguiu fazendo kebabs.

Saí da loja no momento em que ele disse isso, não soube o que responder.
Coloquei as mãos no joelho e lágrimas escorreram sem interrupções.


2018: temos um presidente querendo transferir a embaixada para Jerusalém.

Dias sombrios.

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