terça-feira, 3 de abril de 2012

.Bruxelas mon amour.

Leia ao som de Ne me quitte Pas - Jacques Brel


____________________________________________________


Bruxelas, não sabia o que esperar de lá exatamente, sabia que Cortazar, o escritor portenho, gostava muito, mas imaginava como uma Paris menorzita, ia em época de páscoa, minha primeira viagem fora da Holanda desde o início daquela viagem, dois dias antes de embarcar ainda nem tinha lugar pra ficar, e assim de repente me apareceram dois, decidi dividir.
Um casal flamenco e outro francófono, os dois primeiros dias foram dedicados aos flamencos, ela era compositora e ele recém chegado na cidade, organizava festas alternativas e tinha bastante tempo pra me levar para passeios peculiares.
Quando desci na estação de metro do bairro deles foi uma loucura, era um bairro de concentração árabe e eu me senti chegando no oriente médio e não em uma cidade tão perto de Haia, era uma explosão de idiomas e sensações, os dois me receberam muito bem, moravam em uma ruazinha simpática no centro em um apartamento mais simpático ainda, Seb me levou para um passeio e logo nos primeiros passos eu fui me apaixonando por Bruxelas, com suas ruas com cheiro de chocolate, sebos e lojas culturais, batatas fritas em toda esquina e os saudosos waffles quentes com nutella derretendo em cima, ao chegar na Praça Central, elegi minha praça favorita em todo mundo, onde o som era diferente de qualquer lugar e onde Karl Marx tinha escrito partes do manifesto comunista, e som do acordeão em toda esquina, as ruas eram pra dançar.
Na minha primeira noite um jantar de família do casal flamenco, o holandês belga soava tão mais agradável que o holandês da Holanda, todos interessados pela minha presença, era uma família tão fácil de lidar, eu nunca me esqueço e a lasanha estava ótima, diga-se de passagem.
Em meus passeios Bruxelas se desenrolava como minha cidade favorita do lado oeste da Europa, existia um contraste entre o belo e o moderno, e graffites e um pouco de caos pro meu coração, eu fui na cinemateca quase todos os dias, podia ficar alí horas vendo cenas de Truffaut e Antoine Doinel quando criança, a mistura de idiomas na cidade me fascinava, e seus becos curiosos, Frida, a Kahlo também esteve lá, em uma exposição genialíssima, intimista onde me explodi de sentimentos. Teve também um mercado de pulgas mais inusitado, onde se vendiam até moedas do império romano e fotos de família já esquecidas no tempo, uma festa de nostalgia alheia. Na volta um açougue brasileiro, apinhado de conterrâneos e eu fiz Seb e Vanessa comerem croquetes feitos por mãos da terrinha. Quando me despedi deles pra ir pra outra casa, foi como me despedir de amigos próximos, tanto tínhamos conversado, especialmente antes de dormir, Vanessa cantou uma canção linda em seu violão pra mim e eu fiquei com aquele eterno desejo de um dia poder retribuir.
O casal francófono trabalhava muito, mas os dois eram as coisas mais fofas desse mundo e do próximo também, moravam em uma casarão mais afastado do centro com tantos andares e foram tão hospitaleiros que dava até vontade de acreditar na humanidade, o quintal era tão verde, tinha uma grama tão lisinha, me lembrava do Petter Rabbit, eu ficava  olhando pela janela do quarto e imaginando elfos e anões de gorro correndo pelos lados, dormia sorrindo. Meu último dia eu fui ver o museu do Brel, no centro e estava rolando uma exposição chamada "Eu amo os Belgas", pois é Brel, naquele ponto eu também já estava apaixonada por eles também. Querido Brel.
Claro que na volta pra Holanda eu me perdi no metro e assim perdi meu ônibus, aprendi que a Eurolines sempre atrasa, mas quando você está atrasado ela sai mais do que no horário, tentei correr atrás do ônibus mas não deu certo, claro, voltei de trem então, mas em realidade podia ter ficado uns dias à mais, uns meses talvez.

Definitivamente: Bruxelas mon amour!



Grande Place de Bruxelas

O mercado de Pulgas

Nenhum comentário: