quarta-feira, 6 de abril de 2011

.A rua Cospe Fogo, numero cinco.

Deixaram-me sozinha na casa, na rua Spitfire, numero cinco, depois de todo aquele turbilhão de novidades e sentimentos no aeroporto e depois pelos cômodos da enorme habitação, as crianças já tinham corrido comigo por todos os lados, agarrado minhas pernas e me mostrado quase todas suas coisas, rindo, tossindo e rosnando.
Chovia, já haviam me dito que choveria muito naquelas terras, e eles me deixaram sozinha, como eu já havia dito. Tinham uma festa de aniversário e me deixaram, eu fiquei lá contemplando o teto branco, as paredes brancas, os corredores brancos, a vida de vidro...
...em um supetão levantei-me e desfiz toda a mala em um ataque de histerismo contido, dançando, cantando, ocupando a mente, tentando fazer daquela cena toda algo mais normal, era uma normalidade fingida, forçada, mas minha insanidade já havia começado alí, antes mesmo de pregar minha ultima foto, e colocar em todo aquele mundo branco minhas cores de terras já fisicamente tão distantes.
Eles chegaram então, umas três horas depois, como exatamente  haviam dito, foi servido o meu primeiro jantar, pontualmente as seis, sem feijão e sem arroz, meu assento marcado era a cabeceira, onde por muitas refeições daqueles 365 dias eu os observei como em um teatro particular.
Naquela primeira noite falaram, falaram e falaram e eu não entendi nada com coisa alguma, o pensamento que restava "o que vim fazer aqui ? amanhã eu volto pra casa hein"
Não voltei.


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E é assim bom começar pelo começo, o que for vindo, virá.


da janela do quarto











4 comentários:

Naprodução disse...

Um bom começo pra estes registros. São impresoes bem fortes.... uma vivência marcante na vida de qualquer um: estranheza, alegria, medo. Só posso imaginar, mas nem chega perto do q vc pode sentir.

ÉoTon!

Jenny Souza disse...

e você viveu comigo tudo isso tão de perto, você sabe! :)

Unknown disse...

Lindos !
Nossa, Jenny, que louco de vc reviver esses momentos, cada dia ! Projeto impressionante ! Muito boa terapia, vc pode ter certeza do que aproveitou cada momento : )
Boa sorte com esse blog, linda !

ÉoTon! disse...

" Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes o valor. Conhecer o frio pra desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos, e não simplismente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplismente ir ver"

Amyr Klink